A QUEDA DE EVO MORALES


Quase todos os analistas e políticos de esquerda caracterizam a queda do Presidente boliviano Evo Morales como tendo sido fruto de um golpe. De fato, foi, só que foi um contragolpe.

     Em verdade, o Presidente Evo vinha aplicando há algum tempo um “golpe branco”, visto que: i) desrespeitara a Constituição ao pretender concorrer à uma 3ª reeleição; ii) para superar o obstáculo constitucional, promoveu um plebiscito visando ter um respaldo popular para sua pretensão, e foi derrotado; iii) mercê do controle político que tinha da Suprema Corte e do Tribunal Eleitoral bolivianos – composto por apaniguados seus -, Evo obteve descabida autorização para, a revelia da vontade popular e da Constituição, disputar um 4º mandato consecutivo; iv) durante a apuração do 1º turno da eleição, quando a contagem dos votos sinalizava que haveria um 2º turno, houve uma interrupção da aferição eleitoral por quase 24h, e quando foi recomeçado o processo, os números indicavam a vitória do Presidente no 1º turno. Chamada por Evo Morales a opinar, a (suspeita?) OEA avaliou que houve corrupção no processo eleitoral, o que levou o Presidente e seu Vice a renunciarem.

     Assim sendo, um golpe das então forças governistas estava em curso, o que explica a natural revolta de grande parte da população boliviana. Isto, a despeito da eventual influência do imperialismo americano e seus acólitos da elite boliviana, influência essa quase sempre posta como causa principal pelos referidos analistas e políticos nas suas avaliações sobre quaisquer mudanças institucionais que desfavoreçam as forças progressistas.

     Ocorre que, como ensinava Mao Tsé Tung, em todo evento político-socioeconômico, há que se distinguir a contradição principal a ele atinente, das contradições secundárias.  A mim me parece claro que a contradição principal do recente golpe na Bolívia foi a contraposição entre o desmoralizante procedimento golpista de Evo Morales e as normas e decisões democráticas do povo boliviano, sendo a eventual atuação do imperialismo, neste caso, uma contradição apenas secundária; até porque os governantes americanos conviveram sem maiores traumas com o Presidente Evo Morales por longos 15 anos. O que poderia ter dado a eles condições de, talvez concretamente, apoiarem a queda do Presidente, se não um repúdio popular à desmedida ambição de Evo Morales? 

Godofredo Pinto, é professor, ex-prefeito de Niterói e ex- deputado estadual.

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