Desafio na Rede

Nessa pandemia muitas brincadeiras acontecem nas redes sociais. Uma das que mais gostei foi a dos “10 filmes que marcaram…

Ricardo Moraes


Ricardo de Moraes – Produtor Cultural


Nessa pandemia muitas brincadeiras acontecem nas redes sociais. Uma das que mais gostei foi a dos “10 filmes que marcaram a minha vida”, desafio proposto pelo meu amigo Mota, que aceitei prontamente e acabei desafiando outras pessoas.

Mais que reconhecer  o absoluto valor artístico dos diretores e o talento dos atores, tenho que dizer que sou grato a todos. Considerei como os que “marcaram” a minha vida, os filmes que extraí algum ensinamento e os que vi no lançamento, com exceção de um. Alguns lembro até mesmo o cinema onde vi. 

Pois foi no Bruni Flamengo que era bem pertinho de onde eu morava, o senhor Akira Kurosawa me ensinou muito em “Dersu Uzala” , foi o despertar de consciência da relação com a natureza – ainda que tímida –  um aprendizado e tanto. A frase do personagem central “Você vende água? Você não é boa pessoa” foi simples, correta e surpreendente, na sua ingenuidade.

Fui ao Veneza com os colegas ver ”Um estranho no ninho”, grande presente do diretor Milos Forman. O cinema estava lotado e com uma fila quilométrica. Rapidamente eu e mais alguém, avisamos aos demais que sabíamos como chegar no Comodoro e, lá fomos nós ver Jack Nicholson (que acho o maior de todos) arrebatar o cinema inteiro. Na obra um certo senhor Mc Murphy respondeu, quando lhe perguntaram, que “eram todos loucos mesmo”. Com o filme passei a questionar o que era lucidez e justiça. Mas também reconheci o que era a “loucura” da solidariedade.

O Stanley Kubrick literalmente me desvendou um universo que eu só tinha contato através dos livros e da sala de aula, no Art Copacabana. A riqueza dos nobres e da burguesia europeia, com o ouro surrupiado das colônias em “Berry Lyndon”, foi definitivo  no “cair da ficha”.

Hoje em dia tenho uma amizade nascida na militância, nas rodas de chopp e de samba (não necessariamente nessa ordem) com Bete Mendes mas, na época, a admiração que já era grande desde “Beto Rockfeler” e “O Rebu”, só fez crescer. Foi quando Leon Hirszman estourou nas telas com “Eles não usam black tie”. A cena do esporro categórico que a personagem de Bete dá no Riccelli é demais. Sem falar na maior cena muda do cinema nacional, protagonizada por Fernanda Montenegro, Gianfrancesco Guarnieri e os feijões. Companheirismo, dor e solidariedade.

Aí vem o filme do livro. Só vi o filme recentemente, mas, o livro… comprei no “Círculo do Livro”(lembram?), tinha uma capa preta. Na descrição da “revista” onde escolhíamos o livro, umas coisas bem legais, de justiça social e organização de trabalhadores, que já ocupavam a minha cabeça. Foi como um acordar, encontrar e embarcar no bonde da história pra fazê-la. O filme dava outras imagens às que construí mentalmente, com Emile Zola. “Germinal” foi dirigido por Claude Berri. 

A “concretização” da utopia eu vi com uma namorada. Entre um beijo e outro, tivemos que ver mais uma vez. Arthur Hiller foi o diretor de “O homem de la mancha”. Foi só na segunda vez, mas constatamos que Sophia Loren e Peter O’tolle estavam divinos.

O nojo já existente da violência, do autoritarismo e do nazismo ficou decalcado em “Laranja mecânica”. Mais uma vez obrigado Stanley Kubrick. As bolinhas negras (quem viu entenderá) também não nos deixam esquecer que vivíamos um tempo de censura e Ditadura Militar.

Por falar em nazismo fiquei P da vida, quando percebi que Tarantino perdeu o Oscar com a frase ”Essa é minha obra prima”, na sequência final de “Bastardos em glória”. O cara matou Hitler trancado num cinema em chamas e eu vibrei, quer troféu maior? Daí me perguntei: Oscar pra quê? 

Foi em “O poderoso chefão” que conheci um pouco mais da alma dos atores de cinema, através de interpretações distintas e divinais. Copolla transbordou talento extraindo o que há de melhor em cada um da equipe, deu aos atores excelentes oportunidades e todos eles aproveitaram plenamente.

Resistir é preciso e precioso  e, quando for necessário, “Faça a coisa certa”. Spike Lee é genial. Didático com o racismo e com a necessária resistência, sempre. Só de sacanagem ele ainda dá um show atuando como coadjuvante. 

Vi muitos outros que me marcaram, mas os dez filmes que relacionei na brincadeira foram esses.

Também vi no Bruni Flamengo, o racismo repugnante de Mc Namara em “Corações e mentes” de Peter Davis: “os amarelos não são seres humanos”, dizia. Em “2001 uma odisseia no espaço” (Kubrick novamente) a nossa origem.

Wody Allan também me marcou com o macartismo de “Testa de ferro por acaso”.

A inteligência sutil de “”Pulp fiction”, olha o Tarantino novamente.

Vi a singeleza anárquica e didática de Tizuka em “Gaijin”.

No escracho da classe média em “Coisas eróticas”, a arte de Rafael Rossi.

Falando em hipocrisia e escracho da classe média, não posso esquecer de outros filmes como “Rio Babilônia” de Neville de Almeida, “Terra em transe” de Glauber, “Perdoa-me por me traíres”, com o Chediack dando cores a Nelson Rodrigues e do Bruno Barreto fazendo a mesma coisa com o Amado Jorge de “Dona Flor e seus dois maridos”.

Filmes, aprendizados, lembranças… só pra concluir dizendo que continuo amando o “hors concours” CHARLES CHAPLIN!

Comentários
Compartilhe esta matéria:

Os comentários são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião deste site.

Quer anunciar no jornal Diário de Niterói? Clique aqui e fale diretamente com nosso atendimento publicitário.

Quer enviar uma queixa ou denúncia, ou conteúdo de interesse coletivo, escreva para noticia@diariodeniteroi.com.br ou utilize um dos canais do menu "Contatos".




Top