Saúde da Mulher Negra tem seminário em Policlínica de Santa Rosa


Dentro da extensa programação de março que a Prefeitura de Niterói e suas secretarias elaboraram pelo mês da mulher, nesta terça (10/03) ocorreu um Seminário sobre a Saúde da Mulher Negra no auditório da Policlínica Sérgio Arouca, em Santa Rosa. No que pese avanços em representatividade e combate ao racismo, os dados ainda revelam a discrepância do acesso à saúde desta população. A iniciativa da Fundação Municipal de Saúde (FMS) através do Departamento de Supervisão Técnico-Metodológica (Desum) visa sensibilizar os profissionais de saúde sobre a questão.
Entre os dados mais expressivos em Niterói apresentados por Myriam Cruz, da Coordenação da Saúde da Mulher, destacamos que enquanto 91% das gestantes brancas fazem de 7 a mais sessões de pré-natal – o recomendável pelos médicos – apenas 73% das negras (em soma entre pardas e pretas) realizam o mesmo. São números mais expressivos do que o restante do país, o que comprova a atenção diferenciada dada historicamente por Niterói para a Saúde da Mulher. Considerando todos os municípios do país, em dados da Organização Mundial de Saúde de 2015, são 80% das gestantes que fazem de 6 a mais sessões de pré-natal, enquanto as negras estão em 68%. Outro dado de todo o país revelador da desigualdade por raça e da chamada “violência obstétrica”: entre mortes de gestantes 41% são brancas, enquanto 53% são negras.

Além da introdução da Myriam, o Seminário contou com outras quatro apresentações: as professoras de nutrição Rute Costa (UFRJ-Macaé) e Jorginete Damião (UERJ) que trataram da ligação da alimentação saudável com a afetividade do cozinhar nas famílias negras; Rita Helena, médica da Clínica da Família do Jacarézinho-RJ tratou do antirracismo na atenção à saúde com o foco do método clínico centrado na pessoa; já Cecília Santos, coordenadora do ambulatório de Saúde Mental da Policlínica Dom Luiz Orione, de Piratininga, trouxe a questão do racismo afetando o emocional da população; e por fim, Eloá Rodrigues, como representante do Conselho Municipal LGBTI fez refletir sobre a situação das mulheres transexuais.
Rute e Jorginete começaram com uma atividade dinâmica em fazer os presentes cantarem cânticos dos escravos e cheirar temperos de comida. A ideia era tratar da alimentação como uma forma direta de relação com a ancestralidade africana. “No projeto da página do YouTube ‘Cidinha dá um jeito’ estimulamos a comida de verdade, saber de onde veio a comida, para estimular e facilitar a a autonomia culinária”, afirmaram ao também trazerem um texto de Conceição Evaristo “Da grafia-desenho de minha mãe” que também remete a essa necessidade de valorizar as raízes.
Fazendo um painel sobre a saúde da mulher negra na atenção básica, Rita Helena afirmou que quando um profissional de saúde silencia o usuário sobre as opressões que sofre está afetando a Equidade, um dos três pilares do Sistema Único de Saúde (SUS) com a Universalidade e Integralidade. “A pessoa negra que vamos atender pode estar sofrendo por toda história que o racismo carrega, então é necessário o profissional ter um olhar diferenciado para isso, sabendo que desconstruir é difícil e e um exercício diário”, afirmou, citando Audre Lorde no final: “Não serei livre enquanto alguma mulher for prisioneira, mesmo que as correntes dela sejam diferentes das minhas”.
Na Saúde Mental, a discrepância também é nítida: de acordo com levantamento do Ministério da Saúde em 2019, o índice de suicídio entre jovens negros é 45% maior do que entre brancos. Para tratar do tema, Cecília Santos trouxe sua experiência no ambulatório e, mais do que isso, enquanto mulher negra em uma sociedade racista. “O negro colocado na posição de ‘não ser’ é um peso dilacerador, ainda mais para crianças e jovens em processo de formação. Lembro da menina de 12 anos que atendemos em Piratininga que tinha feito tentativa de suicídio e se achava feia. Foi todo um trabalho de construção da autoestima dessa criança”, relatou.
Se o preconceito de raça já é um desafio para a sociedade, a questão de gênero também afeta: Eloá Rodrigues, enquanto mulher transexual, mostrou como oportunidades para essa população precisam ser criadas, vide que cerca de 90% dessa população acaba recorrendo à prostituição e que sua expectativa de vida é de apenas 35, devido aos casos de homicídio, violência e negação de direitos que passam. “Quantas transexuais vocês conhecem que convivem com vocês no trabalho? Em uma sociedade que legitima nossa aniquilação precisamos poder nos expressar e ter oportunidades”, desabafou. Desde novembro de 2018, a FMS tem um ambulatório de saúde exclusivo para essa população, funcionando nas quarta-feiras no 4º andar da Policlínica Sylvio Picanço, no Centro de Niterói. Foi o primeiro município do estado do Rio de Janeiro a prestar esse serviço.
Ao final das apresentações, o comentário geral era de ser evidente que o racismo ainda persiste na sociedade e que o profissional de saúde deve estar ciente e preocupado com o tema ao tratar seus pacientes que podem estar passando por problemas emocionais derivados dessas opressões e preconceitos, que somados ao machismo podem ser ainda mais dolorosos.
A programação pelo mês da mulher segue por março. Entre as atividades que tem relação com saúde programadas:
12/03/2020

9h – Sexualidade da mulher idosaLocal: Auditório da CodimRua Cônsul Francisco Cruz, 49 – Centro

9h – Oficina de Reequilíbrio Perineal para PuérperasCom a fisioterapeuta Silvana Cardoso PelusoLocal: Policlínica Regional Guilherme Taylor MarchRua Desembargador Lima Castro, 238 – Fonseca (ao lado do Detran)

14/03/2020

13h – Oficina de Automaquiagem e cuidados com a peleLocal: Rua Noronha Torrezão, 24 / sala 915 – Santa Rosa

16/03/2020

Abertura das inscrições para o curso “Gênero nas Políticas Públicas” para servidores municipais
Inscrições: http://egg.seplag.niteroi.rj.gov.br/cursos/presencial – até 26/03
Realização: 30, 31 de março, 2 e 7 de abril | das 9h às 13h
Campus Valonguinho – UFF

17/03/2020

14h – Conversando Sobre Mulheres, Saúde e Câncer
Com Maria Gabriela Ribeiro Portella, Pérola Giron e Lucíola Rangel de Luca
Local: Auditório do Hospital Universitário Antônio Pedro
Av. Marquês do Paraná, 303 – Centro

25/03/2020

14h – Mulheres na Maturidade – Escolhendo Viver Saudável
Local: Policlínica Almir Madeira
R. Prof. Hernani Pires de Melo, 103 – São Domingos

30/03/2020

14h – Alimentação no cotidiano da mulher
Local: Auditório da Faculdade de Economia
Bloco F – Campus Gragooatá – UFF
Rua Alexandre Moura, 8 – São Domingos

14h – Diferentes formas de ser mulher na UFF “Maternidade e ambiente de trabalho”
Homenagem “Estrelas da UFF”
Local: Campus Gragoatá – UFF
Rua Alexandre Moura, 8 – São Domingos

Outras atividades podem ser conferidas no seguinte link: https://odia.ig.com.br/niteroi/2020/03/5875844-marco-ganha-programacao-especial-na-cidade-pelo-dia-internacional-da-mulher.html

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