Amar como um ato

Inicio a crônica do mês de março tomada por uma profunda tristeza, vendo eclodir uma guerra que nos faz recordar...

Inicio a crônica do mês de março tomada por uma profunda tristeza, vendo eclodir uma guerra que nos faz recordar os horrores das Guerras Mundiais, além do surgimento, em várias partes do mundo, e em nosso próprio país, do neonazismo — uma face repaginada do nazismo na atualidade e seu racismo, sua xenofobia, misoginia, homofobia, dentre tantas outras formas de discriminação.

Esse cenário representou, para mim, um chamamento ao ato político de militar pelo Amor como um ato, tanto nas minhas relações pessoais, como também sociais, políticas, e na minha escrita.

O título da crônica: — Amar como um ato — pretende ser então um convite à reflexão e à ação.

Essa necessidade de usar a minha escrita como uma ação política foi se fortalecendo, em especial durante todo este período da pandemia, diante do genocídio em curso em nosso país, onde a falta de empatia e o descaso para com a dor do outro, em especial dos mais pobres e vulneráveis, e o desprezo à ciência, levaram à morte de mais de 650.000 brasileiros e brasileiras.

Nesse período pandêmico, de longo confinamento, quando eu me encontrava imersa em minha solidão, com medo, com indignação, com sentimentos de impotência diante desse estado de coisas, procurei o refúgio na literatura e na escrita como atos de resistência.

Foi quando comecei a me interessar pela temática do amor em minhas leituras e me deparei com o Livro Tudo Sobre o Amor, de bell Hooksi. Parte de uma trilogia da autora.

Esse livro me fez refletir a respeito do que é o amor, para além de um forte afeto — um ato, não só individual, mas coletivo e político.

O livro me fez escutar a voz de uma mulher ativista negra que teve muito a nos ensinar, e reconhecer meu privilégio de mulher branca e o lugar de fala de uma das maiores escritoras feministas negras.

Essa feliz descoberta — da autora e de sua obra — é um presente trazido nesta crônica do mês de março e uma homenagem a todas as Mulheres, no mês em que se celebra a Luta e a Resistência das Mulheres no Mundo. E, também, a bell Hooks, que faleceu em 15 de dezembro de 2021, aos 69 anos.

bell Hooks defendia que o amor é mais do que um sentimento — é uma ação capaz de transformar o negacionismo, a ganância e a obsessão pelo poder que dominam nossa sociedade, ela me fez compreender que no contexto de opressão atual, do poder a qualquer custo, de guerras, do neonazismo e suas inaceitáveis consequências, a militância pelo amor como um ato é uma prática inadiável.

O amor como um ato é uma ação, nunca um sentimento tão somente, é uma combinação de cuidado, compromisso, conhecimento, responsabilidade, respeito e confiança para com o outro, em todas as nossas relações. Quando escolhemos amar, escolhemos nos mover contra o medo, contra a alienação e a separação; “começamos a nos mover em direção à liberdade”, nas palavras da ativista.

Amar como um ato é um gesto de libertação.

Nos contextos em que o ódio é constantemente incitado, em especial pelos governantes, a intolerância se instala, não só no debate político, mas também nas relações interpessoais e familiares. Gera medo, apagamento das vozes, grande sofrimento humano e opressão. Todos e todas nós estamos assistindo e vivendo no nosso cotidiano a naturalização e incitação a esses atos de ódio, desrespeito e agressão.

Escolher amar como um ato significa nos encontrarmos com o outro, com respeito e cuidado, com empatia, contribuindo para que a convivência seja construída por vínculos afetivos e efetivos; e para que o convívio humano se torne harmonioso e amoroso, mesmo na diversidade e pluralidade de escolhas, de opiniões e ideias.

São tempos difíceis. De diálogos interditados pela intolerância. No entanto, ainda é permitido o sonho, a utopia. E militar pelo amor como um ato pode nos levar a alçar voos rumo à paz, com liberdade, para todas as pessoas do mundo. O Amor cura.

A essa mulher, negra, que dedicou sua vida inteira à luta contra a dominação do patriarcado, contra o racismo, e que defendeu a necessidade de combatê-los, todos simultaneamente, através do ato do Amor, rendo minhas homenagens. Sua luta é nossa.

E para reforçar a minha militância pelo Amor como um ato é que vou lançar, no dia 24 de março de 2022, o meu novo livro — A(mar) , uma história de amor entre diferentes, pela Edições Cândido. Espero — e desejo — que nos encontremos no lançamento on line no instagram: https://www.instagram.com/edicoescandido/.

bell Hooks,uma das mais importantes intelectuais feministas da atualidade, nasceu em 1952 em Hopkinsville, então uma pequena cidade segregada do Kentucky, no sul dos Estados Unidos. Batizada como Gloria Jean Watkins, adotou o pseudônimo pelo qual ficou conhecida em homenagem à bisavó, Bell Blair Hooks, “uma mulher de língua afiada, que falava o que vinha à cabeça, que não tinha medo de erguer a voz”. Como estudante, passou pelas universidades de Stanford, Wisconsin e Califórnia, e lecionou nas universidades Yale, do Sul da Califórnia e New School, em Nova York. Em 2014, fundou o bell hooks Institute. É autora de mais de trinta livros sobre questões de raça, gênero e classe, educação, crítica de mídia e cultura contemporânea, entre eles Olhares negros: raça e representação (Elefante, 2019), Erguer a voz: pensar como feminista, pensar como negra (Elefante, 2019), Anseios: raça, gênero e políticas culturais (Elefante, 2019) e Ensinando pensamento crítico: sabedoria prática (Elefante, 2020). Sobre a autora, Tudo sobre o amor: novas perspectivas / bell hooks; tradução Stephanie Borges. São Paulo: Elefante, 2021.

bell Hooks foi fundamental na fundação do feminismo estadunidense. Também escreveu poesias e textos autobiográficos, abordando o conceito de amor que atravessava toda a sua obra.

Faleceu em 15 de dezembro de 2021, aos 69 anos.

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