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Legalidade: Brizola derrotou a direita em 1961


Por Osvaldo Manesch

O movimento da Legalidade, liderado por Leonel Brizola, foi o único movimento civil da América Latina a derrotar um golpe militar já instalado, estruturado e implantado em um Governo central. Pelas ondas do rádio Brizola mobilizou a população do Rio Grande do Sul e depois a do Brasil, contra a decisão dos três ministros militares – Exército, Marinha e Aeronáutica – de impedir a posse do Vice-Presidente constitucional João Goulart, trabalhista como Getúlio Vargas; após a renúncia de Jânio Quadros.

Imbatível no rádio (e depois na televisão), mestre na oratória ao melhor estilo dos grandes contadores de histórias, Brizola tinha o dom de raciocinar falando, como ele mesmo dizia, e como nenhum outro político de sua geração – fez da palavra a sua grande arma. A cadeia da Legalidade – que se formou espontaneamente para divulgar as pregações de Brizola a partir da Rádio Guaíba, que ocupou a manu militari; chegou a reunir 120 emissoras de rádio espalhadas por todo o país divulgando as proclamas e informações reunidas por jornalistas que apoiavam Brizola – exigindo respeito à Constituição e posse do vice-presidente João Goulart.

Em 1961, como em 2004, quando morreu aos 82 anos – sendo 15 deles no exílio – Brizola viveu intensamente o presente com os olhos fixos no futuro. Brizola nunca desistiu de modificar o futuro e sozinho no início, em 1961, também com a ajuda do marechal Lott, decidiu enfrentar os golpistas de Brasília e tirou, do episódio da Legalidade, uma grande lição: “Os golpes só prevalecem na desinformação”.

Nas celebrações dos 50 anos da Legalidade, em 2001, tive a oportunidade de gravar e registrar em palestra que Brizola deu no Rio: “Na Legalidade perdemos uma chance que a História nos deu de bandeja. Não tivemos consciência, não percebemos a oportunidade que a História estava nos dando. Nos iludimos com o blá-blá-blá das oligarquias. O Movimento da Legalidade foi um levante popular-militar com todas as características de um levante revolucionário. Hoje, examinando de longe, acho que eu é que estava certo, tínhamos que ter avançado. As revoluções se fazem assim, as grandes mudanças se fazem nessas arrancadas”.

Brizola dizia que há momentos que valem por dias e dias que valem por décadas. Os 12 dias da Legalidade – de renúncia de Jânio à posse de Jango – que Brizola fez questão de não ir, por discordar do desfecho da Legalidade – foram dias desse tipo.

No momento mais dramático da Legalidade, quando o Palácio Piratini esteve prestes a ser bombardeado pela FAB, Brizola manifestou pelo rádio sua decisão de resistir ao golpe até a morte, se necessário. Fato que lembra outro, ocorrido a 11 de setembro de 1973, quando o presidente Salvador Allende foi deposto e morto no Chile, depois de fazer também histórico discurso pela Rádio Magallanes, onde disse antes de ser metralhado e antes do bombardeio do La Moneda: “A História é nossa e do povo (…) Tenho certeza de que meu sacrifício não será em vão”.

Brizola distribuiu armas para o povo na Campanha da Legalidade, dividiu os militares e ajudou o general Oromar Osório, então comandante da guarnição de Santa Maria, a “por a tropa sobre rodas” e marchar a caminho de Brasília para fechar o Congresso, prender os três ministros golpistas e convocar uma Constituinte. Mas Jango evitou o banho de sangue – os marines da Brother Sam já estavam a caminho – e preferiu a solução parlamentarista. Três anos depois, a primeiro de abril de 1964, foi deposto.

(*) Osvaldo Maneschy é jornalista .

Osvaldo Maneschy é ex-aluno da UFF, primeira turma de Jornalismo, trabalhou na “Tribuna”, no “Fluminense”, no “Jornal do Brasil”, no “Globo”, na “Rádio Jornal do Brasil” e foi editor da página da Associação Brasileira de Imprensa (ABI) na internet, além de editor da página nacional do PDT. Atualmente, além de editar a página www.pdt-rj.org.br, é conselheiro da ABI e da Fundação Leonel Brizola – Alberto Pasqualini (FLB-AP).

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