Projeto da UFF promove educação ambiental na Reserva Extrativista Marinha de Itaipu – Diário de Niterói
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Projeto da UFF promove educação ambiental na Reserva Extrativista Marinha de Itaipu


Diante dos desafios impostos pelas mudanças climáticas e aquecimento global, a educação ambiental aparece como uma chave para que seja possível repensar e mudar a forma como o ser humano enxerga e trata a natureza e os problemas ambientais. É com essa perspectiva que surge o projeto “Ressignifica: transformando lixo em oportunidades”, coordenado pela professora do Departamento de Engenharia Agrícola e Meio Ambiente da Universidade Federal Fluminense (TER-UFF), Dirlane de Fátima do Carmo. Com base na educação ambiental e na ciência cidadã, o projeto propõe uma alternativa de gestão comunitária dos resíduos. A iniciativa atua na Reserva Extrativista Marinha de Itaipu (Resex-Itaipu) e busca enfrentar problemas sociais, econômicos e ambientais por meio da participação ativa das comunidades locais. 

Apoiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (FAPERJ) e realizado em parceria com o Instituto Floresta Darcy Ribeiro, conhecido como Amadarcy, o Ressignifica tem promovido ações de educação ambiental na comunidade do entorno da Resex, monitorando ecobarreira – boias conectadas a redes ou uma estrutura submersa, voltadas para a contenção do lixo para que ele não se espalhe para uma região maior – no Rio João Mendes. Com essa estrutura, o projeto já coletou mais de cinco toneladas de lixo, colaborando para a preservação ambiental e a manutenção do ecossistema do rio. 

A maior parte do material recolhido é composto por resíduos sólidos orgânicos, como restos de alimentos, que têm potencial de reaproveitamento. Nesse sentido,  já foram realizados trabalhos com casca de coco voltados à produção de biocarvão, um material que pode ser utilizado inclusive para tratamento de água. Além disso, muitos desses compostos podem ser transformados em adubo natural, por meio do processo de compostagem, e utilizados em áreas como o paisagismo e a agricultura.

“Agregar valor ao lixo é algo que já está comprovado que funciona. Se pegarmos, por exemplo, as latinhas de bebidas, vemos que a logística reversa nesse caso funciona muito bem. O que queremos com o projeto é justamente aplicar esse tipo de modelo: transformar os resíduos e agregar valor a eles, para que a população enxergue essas alternativas como caminhos viáveis e deixe de dar um destino inadequado ao lixo. A ideia é promover destinações mais sustentáveis, que gerem novos produtos. Por isso o nome do projeto é ‘Ressignifica’ — é dar um novo significado ao resíduo, para que ele deixe de ser apenas um rejeito”, explica a professora.

Ciência Cidadã: levando educação ambiental para moradores

Ação de retirada de resíduos sólidos na ecobarreira do rio João Mendes. – Instagram do projeto @ressignificaniteroi

Nas grandes cidades é comum encontrar valões, mas muitos desses canais são rios que sofreram com o processo de poluição, que vai desde a contaminação por esgoto ao descarte irregular de lixo pela população, comércio e indústrias locais. Essa situação também gera problemas de saúde pública, como a disseminação de doenças como a leptospirose e a proliferação de insetos. Nos resíduos de plástico, a situação é mais agravante, devido à contaminação do rio também pelo microplástico. Todo esse processo leva ao sufocamento e a morte do ecossistema e, por consequência, leva animais a saírem de seus habitats naturais e a buscar abrigo e alimento em zonas urbanas.

Segundo Dirlane, a poluição do rio parece afetar a percepção da população sobre ele, como se ele deixasse de ser percebido como fonte de vida e ignorado. “Eu até brinco com o pessoal da Amadarcy que às vezes parece que estamos enxugando gelo. Toda vez que chove, a ecobarreira acumula uma quantidade absurda de materiais. É muito lixo. Uma das experiências que mais me marcou nesse projeto foi durante uma atividade de mapeamento de pontos de descarte irregular no rio João Mendes, feita com alunos da UFF. Conversamos com um morador que vive próximo à nascente e pedimos para ele definir o rio em uma palavra. Ele respondeu: ‘Inexistente. Não tem rio, aquilo ali é só mato’. Isso me chocou muito”.

Pensando no futuro: ampliando o alcance da educação ambiental

O projeto dará início ainda este ano a um processo de compostagem – processo natural e sustentável que transforma resíduos orgânicos em um adubo natural-,  na região próxima ao viveiro-escola da Amadarcy, no bairro de Itaipu, em Niterói, envolvendo principalmente as escolas públicas e privadas da área. 

“A educação ambiental funciona muito bem com os mais jovens. É uma questão de formação que começa desde cedo, desde o berço, com a conscientização sobre os impactos das nossas ações no meio ambiente. Queremos entender o nível de envolvimento e testar ferramentas de educação ambiental, avaliando o que realmente funciona. De início, vamos começar utilizando resíduos orgânicos coletados em escolas para essa compostagem e, ainda neste ano, está prevista uma ação de teatro nas escolas, com foco em lixo e educação ambiental”. 

Ainda em processo de mobilização da população, o projeto divulga suas ações no instagram com o objetivo de que os registros das atividades e a divulgação das oficinas alcance o maior número de pessoas possível. Também há planos de criar um site para disponibilizar os materiais, além de uma mobilização porta a porta para estimular a participação da comunidade local nesse processo. 

“Realizamos várias oficinas com escolas, envolvendo desde crianças até estudantes universitários. A participação foi muito boa, houve bastante envolvimento. Acredito que tanto crianças quanto jovens se engajam muito quando estão envolvidos na prática. Eles participaram principalmente das oficinas de plantio de mudas e de ações no manguezal. É sempre muito gratificante ver esse tipo de participação ativa”, diz Dirlane.

A docente destaca que um dos principais papéis do projeto é envolver a população por meio da ciência cidadã. “Mas como fazer isso na prática? A nossa ideia, neste primeiro momento, é usar a compostagem como ferramenta de engajamento. Queremos ver como conseguimos mobilizar as pessoas para levarem resíduos orgânicos até a área do viveiro, ajudando a medir as quantidades e a participar ativamente do processo de compostagem”.

Atividade realizada com alunos do 4° ano da creche Me Ninar no viveiro de produção de mudas de mangue e no plantio no mangue real, em Itaipu. – Instagram do projeto @ressignificaniteroi

Outro canal está sendo construído em parceria com o professor do Instituto de Computação da UFF, Lauro Eduardo Kozovits, para o desenvolvimento de um aplicativo que motive a sociedade a denunciar casos de descarte inadequado de lixo, queimadas e aparecimento de animais silvestres, contribuindo com o mapeamento ambiental. A ideia é que o aplicativo seja simples, acessível e que as pessoas possam enviar fotos das ocorrências que seriam georreferenciadas automaticamente e recebidas pelo Amadarcy, que faria o encaminhamento para as autoridades competentes. A expectativa é de que a produção do aplicativo seja finalizada no segundo semestre de 2025.

Além das ações no rio João Mendes, onde já foram iniciadas análises da água, a iniciativa programa atividades que relacionam o uso e a ocupação do solo com os materiais encontrados na ecobarreira e com os dados da qualidade da água, com planos de expansão para outros corpos hídricos e territórios, além de continuar promovendo ações nas escolas com a reciclagem natural, produzindo adubo por meio do processo de compostagem, e engajar os moradores da região, entendendo seu nível de envolvimento e testar ferramentas de educação ambiental.

 

Dirlane de Fátima do Carmo é professora e pesquisadora do departamento de Engenharia Agrícola e Meio Ambiente da Universidade Federal Fluminense (UFF), com atuação em gerenciamento e tratamento de resíduos, agricultura urbana, agroecologia e extensão. É coordenadora do projeto Ressignifica, em parceria com o Instituto Floresta Darcy Ribeiro e apoio da FAPERJ.

O Instituto Floresta Darcy Ribeiro, conhecido como Amadarcy, é uma organização da sociedade civil sem fins lucrativos que atua na defesa do meio ambiente e na promoção de ações socioambientais, especialmente na região do Setor Floresta Darcy Ribeiro, no Parque Estadual da Serra da Tiririca (PESET), em Niterói. 

 

Por Maria Luíza Alves
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