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23ª ReduSaids: o combate ao HIV em debate


Na última sexta (12), a Faculdade de Medicina da UFF foi cenário do prestigiado Seminário da Rede de Educação e Saúde para Prevenção das IST/AIDS e Hepatites Virais de Niteroi- ReduSaids em sua 23ª edição. O evento é uma oportunidade de troca de experiências e aprendizados, envolvendo profissionais de saúde, pesquisadores, estudantes e sociedade civil em geral.

“É consenso em nosso meio, que o estigma e discriminação são barreiras comuns em todas as gerações, interferindo no diagnóstico, no tratamento e na qualidade de vida das pessoas vivendo com HIV/AIDS” pontuou Marcia Santana, coordenadora Municipal de IST/AIDS e Hepatites Virais, lembrando que o atual contexto evidencia a necessidade de políticas púbicas que considerem as particularidades de cada idade, promovendo educação e cuidado em saúde, bem como, garantindo uma melhor qualidade de vida de todos.

Na primeira mesa do Seminário, o Enfermeiro e Professor Pedro Paulo Corrêa Santana, Doutor em Ciências do Cuidado em Saúde e especialista em Envelhecimento e Infectologia, abordou a epidemia de HIV/AIDS e as transformações sociais e culturais que marcaram cada período histórico. Segundo ele, é possível contrastar a geração dos anos 1980 e 1990 — profundamente impactada pelo medo, pela desinformação e pelo estigma — com a geração atual, na qual se observa maior distanciamento da percepção de risco e, em alguns contextos, a banalização do HIV, distanciando das estratégias de prevenção.

“Um eixo central da discussão foi o envelhecimento com HIV, especialmente entre pessoas com 50 anos ou mais, grupo que ainda enfrenta diagnósticos tardios, em grande parte devido à invisibilidade da sexualidade na velhice, além da convivência com múltiplas comorbidades que complexificam o cuidado em saúde”. Paulo defendeu maiores políticas públicas no setor e que sejam integradas, propondo ações como campanhas educativas voltadas à sexualidade na maturidade, o fortalecimento da articulação entre os cuidados geriátricos e infectológicos, e a inclusão sistemática da população 50+ nas agendas de educação permanente sobre Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST). Pedro Paulo também atua na rede pública de Niterói, sendo supervisor de serviços do MMF Ponta D’Areia.

Também na primeira mesa, a professora Claudia Carneiro, professora Associada do Instituto de Psicologia da UERJ/Coordenadora do Grupo de Estudos Interdisciplinares em Saúde- Gentes (@gentes.uerj), apresentou sua experiência de estudo no campo entre as infâncias e juventudes vivendo com HIV/Aids desde 1999, perpassando a criação do site www.gentes.ims.uerj.br. Ela abordou também o cuidado em saúde mental de jovens vivendo com HIV/AIDS (JVHA).

A pesquisadora afirmou que durante a pandemia de COVID-19, em estudo transversal realizado de setembro a novembro de 2020 com 108 JVHA, mais da metade de raça/cor negra (65,0%) e em sua maioria gay (cerca de 66,0%), a participação dos jovens na Rede Jovem Rio + (RJR+) e demais redes ativistas, permitiu um apoio cotidiano, a manutenção da saúde mental, com trocas de informações sobre direitos e acerca do acesso ao tratamento. A mensagem mais ampla da apresentação da pesquisadora é que as redes de atenção psicossocial do Sistema Único de Saúde (SUS) precisam acolher esses jovens para além do suporte do ativismo. A difusão de informação sobre HIV/Aids para os JVHA deve favorecer o encontro entre pares, e promover fortalecimento, identificação e acolhimento mútuo. “Aqui, ressalta-se a utilização de canais na internet para circulação das informações e promoção de encontros”, conclui.

A programação do Seminário na parte da tarde foi iniciada pela exibição de um documentário em curta-metragem que exibe falas das ativistas do Movimento Nacional de Cidadãs Posithivas, o “Flores Vermelhas”. O doc mostra a diversidade de mulheres que vivem com o HIV,  todas dando declarações muito pertinentes sobre viver com o vírus;  lutando  e superando todos os dias os  desafios individuais e coletivos de sua condição sorológica.

No debate sobre o filme alguns temas se destacaram: o poder da união das mulheres e do compartilhamento de conhecimento e experiências; as dificuldades de adesão aos tratamentos pelas mulheres; a importância do contato entre profissional de saúde com as usuárias; a expectativa pela cura do HIV e antes disso, com o desejo de superação dos estigmas e preconceitos sociais ainda tão presentes na sociedade. Ao final desta apresentação, em seu caráter mais lúdico, todos cantaram juntos “Como uma Onda” do Lulu Santos.

Começando a primeira mesa, focada na saúde da mulher, Ivia Maksud, Professora e Pesquisadora Titular na Área de Saúde da Criança e da Mulher do Instituto Fernandes Figueira (Fiocruz) trouxe a citação de pioneiras neste debate: Carmen Doria, com seu estudo “Aids no Feminino”; Maria Amélia Saad com seu trabalho jornalístico de entrevistar mulheres com HIV; e “Da Persistência das Metáforas” de Francisco Inácio Bastos, que trata das discriminações envolvendo o tema. Em sua fala, Ivia ressaltou muito das vulnerabilidades das mulheres e como o acesso à saúde não é equânime.

Em seguida, Paula Land apresentou o grande algoz da dignidade das mulheres com HIV: o cisheteropatriarcado e toda sua herança racista e classista. Paula alertou sobre a violência dentro do próprio cuidado de saúde que podem afastar as mulheres das unidades. Em sua pesquisa com diversas mulheres, ficou claro (!) a discrepância na atenção para mulheres negras e pobres; a hipocrisia do discurso religioso frente as relações extraconjugais dos maridos; e que surpreendentemente essas mulheres tem sua independência financeira. Exemplificando a questão da desigualdade de gênero, quando as mulheres faltavam em suas idas à unidade de saúde para o cuidado contra o HIV, seus maridos continuavam indo.

“As mulheres que optaram por construir novas relações, após o diagnóstico, informaram que tem por hábito conversar com o parceiro sobre sua condição sorológica, mesmo que isso seja algo difícil e que tenha como consequência o término da relação”, contou Paula, que é Professora do Instituto de Psicologia da UFF.

Fechando a mesa, Carolina Cagetti, da Associação Brasileira de Lésbicas – ABL, apresentou as especificidades dessa categoria que acaba sendo negligenciada no atendimento em saúde. “Sofrem mais com a invisibilização e assim, falta informação sobre prevenção e políticas públicas voltadas para nós”, afirmou. A falta de educação sexual nas escolas e o despreparo dos profissionais em entender as práticas sexuais também foram citados. “O cuidado deve ser individualizado para cada uma das mulheres”, sinalizou, citando também diversos métodos de proteção contra ISTs que as lésbicas podem seguir – citemos algumas: evitar sexo quando menstruada; evitar unhas grandes; trocar as camisinhas nos objetos usados em penetração – ela reforçou o perigo da Doença Inflamatória Pélvica, que pode tornar a mulher infértil.

Na outra mesa da tarde, Sandra Filgueiras iniciou trazendo as premissas da Prevenção Combinada: “a combinação de estratégias de prevenção conforme a necessidade das pessoas e seu contexto de vida é a forma mais efetiva de se aumentar a prevenção”, especificando a divisão dela em três campos: biomédica – como as tecnologias do PEP e PrEP -; comportamentais – como campanhas e formação de grupos -; e estruturais – focadas em políticas públicas e manuais informativos. Sandra lembrou que assim como na pandemia foram buscadas novas formas de solidariedade e equidade no atendimento, o mesmo deveria se repetir no HIV/Aids.

Médico assistente no Lapclin-AIDS do INI/Fiocruz, Felipe Sabec foi o próximo convidado, apresentando o trabalho do Conect@as e de Prevenção Combinada da Fiocruz. Por fim, Dara Martins, apresentou o trabalho em vigilância do HIV praticado na unidade em que atua, a Policlínica do Largo da Batalha.

Foto: Rudá Lemos


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