Crise de saúde mental nas escolas, alerta profissionais da educação

Estudo revela que após a pandemia, sete em cada 10 alunos relatam sintomas de ansiedade ou depressão.

O fim dos isolamento e do retorno a uma certa normalidade na pós pandemia, tem evidenciado dificuldades muito maiores do que a precariedade do acesso à internet e a defasagem de ensino nas escolas da rede pública de ensino. A reportagem da BBC Brasil que o Diário de Niterói publica, nos leva a refletir sobre os reflexos na saúde mental e a capacidade do poder público de atender a demanda de alunos e professores nos casos de ansiedade e depressão. É um grave problema que exige das autoridades municipais, ações Intersetoriais que envolvam diferentes atores como as secretarias de Educação, Saúde e os Conselhos Tutelares. Estas medidas exigem mobilização social e respostas urgentes do poder público. Leia a seguir, a reportagem completa.

‘Alunos estão deprimidos, ansiosos, em luto e faltam psicólogos’

Efeitos da pandemia: sete em cada 10 alunos relatam sintomas de ansiedade ou depressão, segundo estudo. Professora revela sensação de desespero e impotência ao lidar com a situação.

“Temos muitas crianças com sintomas de depressão e ansiedade. Uma aluna chegou a desmaiar na escola e várias vezes a criança sai no meio da aula, no meio da prova, não conseguindo respirar, fica lá chorando, tremendo.

Estamos com muita criança com crise de ansiedade — a gente acha, né, porque não podemos diagnosticar ninguém. Mas acredito que é decorrente de tudo que aconteceu na pandemia.

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A gente conversa com a criança, fala com a família e fica de dar encaminhamento para o psicólogo. Mas depois de um tempo perguntamos, ‘E aí, você está indo [ao psicólogo]?’ e eles falam ‘Fui uma vez, mas não teve mais nada.’ Eles fazem o atendimento inicial, mas não conseguem acompanhamento com o psicólogo no postinho.

Encaminhamos uma criança que sofreu estupro quando mais nova e a UBS [Unidade Básica de Saúde] respondeu com um documento falando que ela necessita de encaminhamento à psicologia. Mas fala também que eles estão sem psicólogo no núcleo de apoio à saúde da família na unidade e que ela não se enquadra no perfil do Caps IJ (Centros de Atenção Psicossocial Infantojuvenil).

Eles dizem que estão sem previsão de contratar novo profissional, entregando à família uma lista de serviços de psicoterapia gratuita ou a preço social. Mas isso é completamente irreal para essa comunidade, porque as famílias não têm dinheiro nem para a passagem. Tem um monte de famílias realmente passando fome. A gente vê alunos pedindo dinheiro no farol.”
O relato é de uma professora da EMEF (Escola Municipal de Ensino Fundamental) Solano Trindade, no Jardim Boa Vista, zona oeste de São Paulo, que optou pelo anonimato.

O quadro descrito por ela está longe de ser um caso isolado.

Um mapeamento feito pela Secretaria da Educação do Estado de São Paulo, em parceria com o Instituto Ayrton Senna, divulgado em abril deste ano, identificou que 69% dos estudantes da rede estadual paulista relatam ter sintomas ligados à depressão e ansiedade

A pesquisa também indicou que 5,7% dos estudantes relatam presenciar violência psicológica com muita frequência e outros 3,8% afirmam presenciar violência física em casa com muita frequência.

Mas as demandas relacionadas ao bem-estar psicológico dos alunos não se resumem a essas.

“Estou com seis alunas que acham que são trans [transexuais, pessoas cuja identidade de gênero é diferente de seu sexo biológico] e temos relatos de abusos sexuais sofridos pelas crianças”, conta a professora, sobre questões relacionadas a sexualidade e gênero que surgem no cotidiano escolar e que demandariam acompanhamento qualificado.

Ela conta do sentimento de frustração e impotência diante da impossibilidade de encaminhar os alunos para atendimento adequado.

“Eu me sinto bem desesperada, com uma sensação de impotência, sobrecarregada e despreparada”, desabafa.

“Porque é isso: se a única coisa que eles têm sou eu, eu queria conseguir oferecer uma coisa melhor a eles, mas eu não sei como devo agir em algumas situações, então me sinto mal. É horrível uma criança te procurar com uma situação grave como violência e você não fazer nada, porque parece que a escola, enquanto instituição, está aceitando aquela situação”, lamenta a professora.

“Isso me deixa muito mal. Nas férias, eu estava sonhando com essas crianças.”

‘Volta da pandemia está sendo muito difícil’

Adriana Curado, coordenadora pedagógica da EMEF Solano Trindade, confirmou o quadro descrito pela professora. Segundo a pedagoga, as questões de saúde mental dos alunos se agravaram com a volta às aulas presencias pós-pandemia.

“A volta da pandemia está sendo muito difícil, pois os alunos trazem várias situações para a escola”, diz Curado.

“São muitos alunos com problemas de ansiedade, de pânico, questões de violência, abusos, negligências. Os casos aumentaram demais, inclusive os casos de conflito, de eles conseguirem lidar com situações do dia a dia”, diz a coordenadora.

A avaliação da professora é similar. “Eles estão com muita dificuldade de relacionamento entre si. Essa situação de voltar à escola e conviver com os colegas todos os dias, nós percebemos muita dificuldade neles”, diz a educadora.

“E eles têm outros motivos para sofrimento: mortes na família, pais se separando, falta de comida em casa, que são coisas que eles não estão conseguindo lidar.”

“São muitos alunos com problemas de ansiedade, de pânico, questões de violência, abusos, negligências. Os casos aumentaram demais, inclusive os casos de conflito, de eles conseguirem lidar com situações do dia a dia”, diz a coordenadora.

A avaliação da professora é similar. “Eles estão com muita dificuldade de relacionamento entre si. Essa situação de voltar à escola e conviver com os colegas todos os dias, nós percebemos muita dificuldade neles”, diz a educadora.

“E eles têm outros motivos para sofrimento: mortes na família, pais se separando, falta de comida em casa, que são coisas que eles não estão conseguindo lidar.”

Fonte: BBC Brasil

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