PARA CONTATO POR WHATSAPP, CLIQUE AQUI

HUAP em Foco: UFF desenvolve dispositivo de intubação impresso em 3D


A crise sanitária causada pela Covid-19 exigiu algumas adaptações de protocolos nas unidades de saúde para controlar o número de infectados e salvar a maior quantidade de pacientes acometidos pela doença. Entre os procedimentos impactados, que estiveram presentes no dia a dia dos profissionais de saúde, foi a intubação, utilizada nos quadros respiratórios mais graves da infecção.  Como forma de otimizar o processo e reduzir o tempo de exposição ao vírus durante a intervenção clínica, a Universidade Federal Fluminense (UFF) desenvolveu o VGL3UFF, um dispositivo impresso em 3D de videolaringoscopia, tecnologia com uso de microcâmera utilizada para aumentar a taxa de êxito de uma intubação.  

Concebido em 2021 por uma equipe multidisciplinar da universidade, o projeto tinha como objetivo fornecer uma alternativa mais barata de obter o dispositivo, uma vez que o videolaringoscópio tem um custo elevado no mercado. Além disso, a tecnologia conferiu inovação ao hospital, que até então possuía o aparelho. As intubações orotraqueais, procedimentos caracterizados pela inserção de um tubo pela boca do paciente até a traquéia para garantir a respiração adequada, eram realizadas com dispositivos tradicionais.  

“Os videolaringoscópios aumentam as chances de sucesso na primeira tentativa de intubação, em comparação com o método convencional, a lâmina Macintosh. Principalmente nas situações em que o paciente apresenta uma via aérea de difícil acesso.”, explica a coordenadora da iniciativa e médica anestesiologista do Hospital Universitário Antônio Pedro (Huap-UFF), Andréa Jorge e Silva. 

Freepik. Profissional de saúde realiza intubação orotraqueal, a inserção de um tubo pela boca do paciente até a traquéia para garantir a respiração adequada.

Em meio à pandemia da Covid-19, a necessidade de a intubação ser certeira logo na primeira tentativa era uma recomendação do Ministério da Saúde para reduzir o tempo em que o paciente passava com a via aérea exposta e, assim, diminuir os riscos de contaminação dos profissionais de saúde durante o procedimento. “Era um desafio que tínhamos para superar, já que o hospital não tinha o videolaringoscópio e precisávamos de uma solução rápida, de baixo custo e que nos conferisse agilidade no processo. Foi assim que nasceu o projeto”, pontua Andréa. “O VGL3UFF permite que façamos as intubações mais distantes do infectado, ou seja, com menos risco de contaminação e confere melhor visão da glote do paciente”, complementa. 

A impressão em 3D do dispositivo foi realizada com o polímero ABS (acrilonitrila butadieno estireno) – um termoplástico caracterizado pela durabilidade e fácil processamento – pela Escola de Engenharia da UFF, uma das parceiras da iniciativa. “Após inúmeras tentativas, pesquisas e reformulações, alcançamos um protótipo que atendia às nossas necessidades”, conta Andréa ao afirmar que a taxa de sucesso do dispositivo é de uma tentativa e meia e pode ser utilizado até 10 vezes sem danificar a lâmina ou causar prejuízos ao paciente.  

Por dentro da pesquisa  

O estudo clínico comparativo foi realizado com 60 participantes, divididos em dois grupos. O VGL3UFF foi testado em 30 pacientes e teve sua efetividade comprovada ao longo da pesquisa. Os demais foram submetidos ao procedimento com a lâmina Macintosh. Andréa explica que o funcionamento do dispositivo foi comparado ao método tradicional. “Após os testes, chegamos à conclusão de que o produto fornece uma visão melhor durante todo o processo de intubação e é uma alternativa que pode ser incorporada nas unidades de saúde como alternativa viável”. 

Aplicações  

Um dos principais achados do projeto foi a constatação de que é possível aperfeiçoar os procedimentos clínicos com baixo custo e com inovação tecnológica em saúde, além de a impressão 3D ser uma resposta rápida para uma crise sanitária, como foi a da Covid-19. A coordenadora estima que o gasto para a produção do VGL3UFF é de aproximadamente R$ 150,00 sem contar o valor do tablet acoplado, item utilizado para observar a transmissão da câmera embutida no dispositivo. 

“Os resultados apontam que temos uma opção menos custosa e que pode ser incorporada em unidades de saúde com poucos recursos e na formação dos profissionais de saúde, como em cursos de graduação, residência e treinamentos. É uma alternativa que pode auxiliar na melhoria das intubações e na redução do sofrimento do paciente, já que, em muitos casos, após inúmeras tentativas, pode haver lesão grave da via aérea e em algumas situações podem ser necessário realizar uma traqueostomia, procedimento cirúrgico de abertura da traqueia para manter a via aérea sem obstruções”, pontua a coordenadora que também é chefe da Divisão de Gestão do Cuidado do Huap-UFF. 

Freekpik. O videolaringoscópio confere mais eficiência no processo de intubação e diminui o sofrimento do paciente.

Patente e próximos passos 

Atualmente, o dispositivo está aguardando a finalização do processo de patente no Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI). A equipe responsável pretende realizar a notificação do novo dispositivo junto à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), após conseguir o patenteamento da tecnologia desenvolvida pela UFF. Além disso, Andrea revela que os próximos passos são realizar testes comparativos com outros videolaringoscópios disponíveis no mercado para obter uma porcentagem mais precisa da eficácia e ampliar o uso em pacientes de modo geral. “O VGL3UFF nessa primeira etapa do projeto foi testado em um número não muito representativo de participantes, mas a ideia é o seu uso seja incorporado na prática clínica do hospital, assim como na formação acadêmica”, finaliza  

O projeto já foi publicado em duas revistas científicas internacionais: European Journal of Anaesthesiology and Scientific Reports. Além disso, ganhou o prêmio Ricardo Cruz do Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio de Janeiro (Cremerj) em 2023. Ficou em primeiro lugar no concurso de Pitch de Inovação no Congresso Brasileiro de Anestesiologia em 2024, e foi exposto na Fisweek 2025.

A equipe multidisciplinar envolvida na elaboração e execução do dispositivo é composta por quatro anestesiologistas e um residente em Anestesiologia do Huap-UFF, além de dois alunos da Faculdade Medicina e dois engenheiros do Departamento de Engenharia de Recursos Hídricos e Meio Ambiente.

Andréa Jorge e Silva possui graduação em Medicina pela Universidade Federal Fluminense (UFF). Especialização em anestesiologia pelo centro de ensino e treinamento do Hospital Universitário Antônio Pedro (Huap-UFF). Membro ativo da Sociedade Brasileira de Anestesiologia e Sociedade de Anestesiologia do Estado do Rio de Janeiro. Exerceu atividade médica no centro de terapia intensiva da Policlínica de Botafogo. Atuou como médica anestesiologista no Hospital Municipal Miguel Couto. Atualmente, é médica anestesiologista no Hospital Universitário Antônio Pedro, concursada em 2002, e está matriculada no curso de doutorado da Pós Graduação em Ciências Médicas da UFF. Em ambos os hospitais colaborou para a formação em anestesiologia dos médicos residentes e pós graduandos. Desde de 1994 atua como médica anestesiologista autônoma em hospitais da rede privada em Niterói e Rio de Janeiro.

 

Por Wladimir Lênin.

Os comentários são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião deste site.

Quer anunciar no jornal Diário de Niterói? Clique aqui e fale diretamente com nosso atendimento publicitário.

Quer enviar uma queixa ou denúncia, ou conteúdo de interesse coletivo, escreva para noticia@diariodeniteroi.com.br ou utilize um dos canais do menu "Contatos".




Deixe um comentário