
UFF Responde: Menopausa
A data 18 de outubro é marcada pelo Dia Mundial da Menopausa, criado na intenção de promover a conscientização e o apoio para a melhora da saúde e bem-estar da mulher diante das mudanças fisiológicas. A menopausa é um processo natural que indica o fim do período reprodutivo, definida respectivamente pela ausência da menstruação por 12 meses consecutivos, sem causas secundárias, como gravidez ou uso de medicamentos. Trata-se de uma transição biológica que costuma ocorrer entre os 45 e 55 anos, com idade média no Brasil em torno de 48 anos.
Durante a menopausa, ocorre a queda progressiva dos níveis de estrogênio e de progesterona, hormônios produzidos pelos ovários. Essa diminuição hormonal provoca alterações físicas, metabólicas e emocionais. Entre os sintomas mais comuns estão os fogachos (ondas de calor), sudorese noturna, alterações do sono e humor, ressecamento vaginal e redução da libido. Além disso, é possível que haja o surgimento de condições mais graves, como impacto na saúde óssea, cardiovascular e metabólica.
O acompanhamento médico e a realização de exames de rotina nesse período são fundamentais. A menopausa vai além das mudanças hormonais e envolve tanto a saúde física quanto o bem-estar emocional. Diferentes estratégias podem ser aplicadas para reduzir o impacto dos sintomas e favorecer a autonomia da mulher na fase pós-reprodutiva, como táticas de terapia hormonal, tratamentos não hormonais, atividades físicas e acompanhamento psicológico.
Para entender melhor os cuidados necessários, os sintomas e as formas de tratamento, conversamos com as professoras do Departamento Materno-Infantil (Setor de Ginecologia) da Universidade Federal Fluminense (UFF), Susana Cristina Aidé e Aparecida Monteiro.
O que é a menopausa e como ela é diagnosticada?
Aparecida Monteiro: A menopausa é um processo fisiológico natural que marca o fim da vida reprodutiva da mulher, definida retrospectivamente pela ausência de menstruação por 12 meses consecutivos, sem explicações secundárias como gravidez, disfunções hormonais ou uso de medicamentos.Ela ocorre devido à falência progressiva dos ovários, com queda nos níveis de estrogênio, o que interrompe a ovulação e os ciclos menstruais.
O diagnóstico é clínico, especialmente em mulheres acima de 45 anos, baseado na ausência da menstruação e na presença de sintomas típicos, como ondas de calor, sudorese noturna, alterações do sono e humor, e secura vaginal. Exames laboratoriais só são necessários em casos especiais, como suspeita de menopausa precoce ou dúvidas diagnósticas.
Qual a diferença entre menopausa e climatério?
Aparecida Monteiro: A menopausa é um marco biológico. Trata-se da última menstruação espontânea da mulher, confirmada retrospectivamente após 12 meses consecutivos de amenorréia, isto é, a ausência da menstruação, sem causas patológicas ou hormonais secundárias. Já o climatério é um conceito mais amplo e clínico, que se refere ao período de transição do período reprodutivo para o não reprodutivo. Ele engloba os anos que antecedem e sucedem a menopausa. Durante esse intervalo, há importantes oscilações hormonais, com impacto físico, psicológico e metabólico. É nesse momento que surgem alguns sintomas.
Quais são os principais sintomas que as mulheres sentem?
Aparecida Monteiro: Os sintomas do climatério decorrem principalmente da queda nos níveis de estrogênio, podendo variar em intensidade e duração entre as mulheres. Os mais comuns incluem as ondas de calor, frequentemente acompanhados de distúrbios do sono, sudorese noturna, alterações de humor como irritabilidade, ansiedade e episódios depressivos, além de lapsos de memória.
No trato genital e urinário, são frequentes ressecamento vaginal, dor durante as relações sexuais, queda da libido e maior predisposição a infecções urinárias.
Além disso, há aumento da gordura abdominal, alterações metabólicas e, com a progressiva deficiência estrogênica, uma redução da massa óssea, o que contribui para o risco de osteopenia e osteoporose. Esses sintomas podem impactar significativamente a qualidade de vida física, emocional, sexual e funcional da mulher, e por isso devem ser avaliados de forma individualizada.

Fogachos (ondas de calor) é um dos principais sintomas da menopausa. Foto: Freepik
Muitas sentem ondas de calor intensas. O que provoca essas sensações?
Aparecida Monteiro: As ondas de calor — também chamadas de fogachos — são causadas por alterações no centro termorregulador do hipotálamo, região do cérebro responsável por controlar a temperatura corporal.
Durante a menopausa, ocorre uma queda significativa nos níveis de estrogênio, hormônio que influencia diretamente esse sistema de regulação térmica. Com a diminuição, o centro termorregulador torna-se mais sensível a pequenas variações de temperatura. Como resposta, o corpo ativa mecanismos de “resfriamento”, como vasodilatação periférica (a pele fica avermelhada) e sudorese intensa, que resulta na sensação súbita de calor.
Esses episódios podem durar de segundos a vários minutos e se repetir várias vezes ao dia, sendo comuns à noite, o que prejudica o sono e a qualidade de vida. Além da deficiência estrogênica, fatores como estresse, consumo de álcool, cafeína, alimentos condimentados, entre outros, podem intensificar os fogachos.
De que forma a menopausa pode impactar a saúde mental e emocional?
Aparecida Monteiro: A menopausa é uma transição biológica natural, mas muitas mulheres vivenciam esse período com significativa intensidade emocional. A queda dos níveis de estrogênio — hormônio que também atua no sistema nervoso central — afeta neurotransmissores como serotonina, dopamina e noradrenalina, que estão diretamente ligados ao humor, à memória e à regulação emocional.
Esse desequilíbrio pode causar ansiedade, irritabilidade, tristeza, alterações de humor e lapsos de memória. Além disso, fatores psicossociais, relacionais e identitários — como envelhecimento, mudanças na sexualidade e no papel social — também contribuem para esse impacto emocional. Por isso, o suporte psicológico, o acolhimento e uma abordagem integrada são fundamentais para promover o bem-estar nessa fase.
Quais cuidados devem ser reforçados no acompanhamento ginecológico da mulher na menopausa?
Susana Aidé: A mulher na menopausa deve ser vista de forma integral. Nessa fase, é importante manter os exames de rastreamento em dia, como os de câncer de colo do útero, de mama e de cólon. Também é essencial prevenir doenças cardiovasculares, adotar uma alimentação equilibrada — se possível com acompanhamento nutricional — e praticar exercícios regularmente.
Outro ponto importante é a vacinação, tanto para mulheres adultas quanto idosas, conforme as recomendações dessa etapa da vida. É preciso também ter atenção ao controle do estresse, já que muitas ainda estão ativas profissionalmente. Além disso, é fundamental manter a convivência social e o lazer para o bem-estar.
Por fim, deve-se prevenir a osteoporose com alimentação rica em cálcio, suplementação quando necessária, níveis adequados de vitamina D e atividades, como caminhada, corrida e musculação, que fortalecem os ossos.
Em relação à terapia hormonal, quais são os principais benefícios ou contraindicações?
Susana Aidé: A terapia hormonal não é obrigatória para todas as mulheres. Embora todas passem pela menopausa, apenas algumas se beneficiam desse tipo de tratamento — especialmente as que apresentam sintomas mais intensos que comprometem a qualidade de vida.
Entre os sintomas mais comuns estão tontura, lapsos de memória, dores de cabeça, palpitações, tremores, dores articulares, ondas de calor, sono irregular, cansaço, baixa libido e sintomas geniturinários, como ressecamento vaginal, dor nas relações sexuais e infecções urinárias recorrentes. Nesses casos, é importante que o ginecologista avalie a paciente e, se indicado, recomende a terapia hormonal para aliviar os sintomas.
O tratamento também traz benefícios adicionais, como a prevenção da osteoporose, de doenças cardiovasculares e o apoio à saúde cognitiva. No entanto, é fundamental manter um estilo de vida saudável — com alimentação equilibrada e prática regular de exercícios —, especialmente para mulheres que têm contraindicações ao uso de hormônios.
Entre as contraindicações estão tumores hormonodependentes (como os de mama e endométrio), diabetes descompensada, hipertensão grave, doença hepática ativa e histórico de trombose.
Para quem não pode usar hormônios, que outras alternativas de tratamento existem?
Susana Aidé: Além da prática de prática esportiva, que melhora a produção de endorfinas e ajuda a controlar a turbulência emocional da menopausa, existem diferentes alternativas para aliviar os sintomas. Há medicamentos fitoterápicos que atuam sobre o sistema termorregulador, reduzindo os fogachos e os suores noturnos, e também antidepressivos que auxiliam no humor, no sono e nesses sintomas vasomotores.
Para a síndrome geniturinária da menopausa, além dos hormônios, cujo uso deve ser avaliado de forma individual e multidisciplinar, existem opções não hormonais, como hidratantes vaginais, radiofrequência fracionada microablativa (tecnologia que combina microagulhas com energia eletromagnética para aquecer o tecido da pele de forma controlada, estimulando a produção de colágeno e a regeneração), laser vaginal e exercícios do assoalho pélvico, que ajudam a melhorar a saúde íntima e o conforto da mulher.
Diversos estudos comprovam que a atividade física regular tem impacto positivo na qualidade de vida, inclusive para mulheres na menopausa, sendo uma das principais aliadas no bem-estar físico e emocional nessa fase.

Mulher recebendo dose de vacina. Foto: Raquel Portugal/Fiocruz Imagens.
O que significa imunoprevenção e por que é importante discutir isso na menopausa?
Susana Aidé: A imunoprevenção consiste na utilização de vacinas para evitar doenças e suas complicações. Os imunizantes contêm partículas que estimulam o sistema imunológico a produzir anticorpos, que combatem o agente causador da doença quando o corpo é exposto a ele. Essa proteção é importante em todas as fases da vida, do nascimento à velhice.
No caso das mulheres na menopausa, geralmente a partir dos 50 anos, é essencial manter o calendário vacinal atualizado e incluir vacinas que possam não ter sido aplicadas na infância ou adolescência, já que muitas não estavam disponíveis na época. Nessa faixa etária, há imunizantes específicos, como a do herpes zóster, que previne a reativação do vírus da catapora e complicações como neuralgia pós-herpética, paralisia facial e perda auditiva ou visual.
Com o avanço da idade, ocorre a imunossenescência, que é a redução natural da imunidade. Isso aumenta a vulnerabilidade a infecções, especialmente em pessoas com comorbidades como diabetes, doenças renais, obesidade, asma e problemas cardíacos. Por isso, é fundamental que mulheres nessa fase tomem vacinas como a do herpes zóster, influenza (anualmente), covid-19 (uma ou duas vezes ao ano), vírus sincicial respiratório e pneumocócica, que previnem pneumonias — uma das principais causas de internação em idosos. Esses cuidados vacinais ajudam a preservar a saúde e a qualidade de vida das mulheres na menopausa e na fase idosa.
Quais hábitos de vida saudáveis podem ajudar a aliviar os sintomas?
Aparecida Monteiro: Durante o climatério, adotar um estilo de vida saudável pode aliviar os sintomas e contribuir para a saúde como um todo — incluindo ossos, coração, mente e sexualidade. Uma alimentação equilibrada, rica em vegetais, frutas, grãos integrais e fontes de cálcio e vitamina D, ajuda a proteger a saúde óssea. Evitar alimentos ultraprocessados, excesso de açúcar e gordura também é importante.
Adotar práticas como caminhadas, musculação, yoga ou alongamentos contribui para o controle do peso, melhora o humor, preserva a massa óssea e muscular e reduz o risco de doenças cardiovasculares e quedas. O cuidado com o sono, como manter horários regulares e evitar telas à noite, é essencial, assim como o apoio à saúde mental, com terapias, meditação e espaços de escuta.
A vida sexual também merece atenção: lubrificantes, hidratantes vaginais e o diálogo com o(a) parceiro(a) fazem parte do cuidado com o bem-estar íntimo. Evitar o tabagismo e reduzir o consumo de álcool trazem benefícios importantes, especialmente para o controle dos sintomas e a saúde dos ossos e do coração.
Por fim, o acompanhamento médico regular permite avaliar riscos individuais, manter exames em dia (como mamografia, densitometria, colesterol e glicemia) e discutir opções terapêuticas, incluindo a possibilidade de terapia hormonal, quando indicada.
Quais exames de rotina são essenciais para mulheres nessa fase da vida?
Aparecida Monteiro: Os principais são: Perfil lipídico, glicemia de jejum e Mamografia. Demais exames de acordo com a faixa etária, como rastreio do câncer de colo uterino, colonoscopia, densitometria óssea, podem ser indicados. Além desses, alguns complementares podem ser solicitados conforme o histórico clínico, estilo de vida e uso ou não de terapia hormonal.
Susana Aidé: É essencial manter o acompanhamento ginecológico com foco no rastreamento de cânceres. O exame de prevenção do colo do útero passa por atualização: a citologia será substituída pelo teste de DNA do HPV, indicado para mulheres de 25 a 64 anos, com o último teste feito aos 60. Já o câncer de mama, o mais incidente entre mulheres no Brasil, deve ser monitorado por meio da mamografia anual a partir dos 40 anos.
Também é importante realizar a colonoscopia a partir dos 45 anos, mesmo sem histórico familiar, e solicitar exames laboratoriais de rotina — como hemograma e função da tireoide — para avaliar a saúde geral.
Outros cuidados incluem o exame de urina, já que infecções urinárias são mais frequentes nessa fase, e a densitometria óssea em torno dos 50 anos, para prevenir e tratar precocemente a osteoporose.
Quais os maiores mitos sobre a menopausa que precisam ser quebrados?
Aparecida Monteiro: A menopausa ainda é cercada por crenças equivocadas. Um dos principais mitos é a ideia de que ela marca o fim da feminilidade — o que não é verdade, já que a feminilidade não se limita à fertilidade ou ao ciclo menstrual. Outro mito é que todas as mulheres terão sintomas intensos, quando, na realidade, a intensidade e a duração variam muito, e muitas quase não os sentem.
A terapia hormonal também não é sempre perigosa: quando bem indicada e acompanhada, é segura e melhora a qualidade de vida. Da mesma forma, a vida sexual não acaba na menopausa — ela continua possível e satisfatória, com os cuidados adequados.
A menopausa não causa depressão obrigatoriamente, as alterações emocionais variam conforme o contexto e os fatores individuais. A terapia hormonal também não engorda, já que o peso depende principalmente da alimentação, do sono e da atividade física.
Por fim, o acompanhamento ginecológico continua essencial mesmo após a menopausa, e é importante lembrar que a descoberta antes dos 40 anos deve ser investigada, pois pode representar riscos à saúde óssea e cardiovascular.
Susana Aidé: Um dos grandes mitos sobre a menopausa é a ideia de que a terapia hormonal causa câncer. Esse medo surgiu após um estudo antigo, o WHI (Women’s Health Initiative), feito com metodologia falha e com mulheres fora da chamada “janela de oportunidade”. Hoje, se sabe que, quando indicada até 10 anos após a menopausa ou até os 60 anos, a terapia hormonal não aumenta o risco de câncer de mama nos primeiros cinco anos de uso e, depois disso, o risco é pequeno e deve ser avaliado individualmente.
Outro ponto importante é a atual supervalorização da terapia hormonal, especialmente dos hormônios androgênicos e do chamado “chip da beleza”, com gestrinona, substância sem comprovação científica e não recomendada por sociedades médicas. A testosterona pode ser usada em baixas doses para tratar desejo sexual hipoativo, mas sempre com acompanhamento e decisão compartilhada.
A terapia hormonal tradicional combina estrogênio e progesterona para mulheres com útero, já que a progesterona protege o endométrio. Para quem não tem útero, usa-se apenas o estrogênio. Embora alguns estudos indiquem que a progesterona pode melhorar o sono, ainda não há protocolos que recomendem seu uso para mulheres histerectomizadas, ou seja, as que tiveram o órgão removido.
Aparecida Cristina Sampaio Monteiro é graduada em Medicina pela Universidade Federal Fluminense (1998), Mestrado em saúde materno-infantil pelo Instituto Fernandes Figueira (IFF) – FioCruz. Pós-graduação em Vídeo-Histeroscopia – Fiocruz – IFF. Título de Qualificação em IST. Título de Especialista em Ginecologia e Obstetrícia. Tem experiência na área de Medicina, com ênfase em Ginecologia e Obstetrícia, Residência Médica em Ginecologia e Obstetrícia no Hospital Federal de Bonsucesso. Professora de Ginecologia na UFF.
Susana Cristina Aidé Viviani Fialho possui graduação em Medicina pela Universidade Federal Fluminense (UFF) (1995), mestrado em Medicina pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (2000) e doutorado em Medicina (Ginecologia) pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (2009). Professora Associada da UFF. Subcoordenadora do Setor de Patologia do Trato Genital Inferior e Colposcopia do Hospital Universitário Antônio Pedro. Professora do curso de Mestrado Profissional em Saúde Materno-Infantil da UFF. Fellow da International Society for the Vulvovaginal Disease (ISSVD). Atualmente é vice-chefe do Departamento Materno-Infantil da UFF. Presidente da Comissão Nacional Especializada de Vacinas da Febrasgo -2024/2027, membro da diretoria da Associação Brasileira de Patologia do Trato Genital Inferior e Colposcopia (ABPTGIC) e membro da diretoria da ABPTGIC capítulo RJ, membro da diretoria da Sociedade de Ginecologia e Obstetrícia do Rio de Janeiro (SGORJ). Membro da Câmara Técnica de Imunizações, do Ministério da Saúde.
Por Alícia Carracena.
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